Se eu me conseguisse esconder...
Precisaria de uma capa ou de simplesmente me sentir escondida. Seria só uma sombra numa árvore com um bloco de notas ou um super-herói. Não dos que vivem em casa brancas mas desses que moram num bairro aqui ao pé, onde há o amarelo, o azul e até o rosa por entre o barulho ruidoso das flores que se pede para vender.
Esses super-heróis são iguais a todos nós. Só que alguns usam fatos elegantes e carros mais pomposos. Andam pela rua e escondem-se atrás das janelas. Velhos e novos que passeiam o cão, falam ao telemóvel, escolhem a campainha errada ou fumam um cigarro ou dois... com o nervosinho frio de quem quer voltar para dentro. Para dentro da casa sem entusiasmo, de quem passa o dia a carregá-la às costas ou a tiracolo de um Mac ou de um Pc, preso às contas para pagar e com a indiferença necessária às notícias cansadas que nos chegam todos os dias.
Se eu me conseguisse esconder...
Como quem fica dentro da cabine telefónica a falar horas com um qualquer estranho de quem gostaria de gostar. Como quem pode auscultar a saúde das árvores enquanto caminha devagar e entre pausas conversa com o amigo de longa data. – Faz bem ao coração! – dizem os entendidos; Logo a seguir às refeições.
- Proteja a sua saúde: há produtos ortopédicos, cosméticos ou até homeopáticos abertos das 9 às 20.
- Proteja o seu lugar de estacionamento da ocupação indevida pelo vizinho deslocado que não tem onde o deixar ficar.
- Proteja as águas por onde navega e as janelas por onde espreita, fixando as mãos ocupadas com a imperial do costume à porta do restaurante demasiado cheio.
À espera... à espera de um lugar confortável à imagem do que projectamos, sem as sirenes aceleradas por mais uma multa, sem a publicidade debaixo da porta e com a esperança como nome de rua.
Se eu me conseguisse esconder...
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